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Onde está o seu tempo, pai?

Eu estava em uma das escolas que atendo, certa vez, e fiquei prestando atenção no que um dos alunos fazia. Resumidamente: estavam pai e dois filhos parados na porta da escola. O pai e o menino adolescente com os celulares em uma das mãos. O pai com o outro menino menor na outra mão. Este garoto olhava uma coisa e chamava o pai para olhar... Olhava outra, e chamava o pai para olhar.

Pelo menos umas dez coisas diferentes foi mostrada ao pai, em não mais que cinco minutos.
O pai dizia “Um minuto”... “Espera aí”... “Já, já, olho, filho”... “Eu vi, ontem. Legal, né, filhão”... “Um instante”... “Papai já olha...”
E, assim foi o tempo, marcado por advérbios de tempo, por longos e exaustivos minutos. Por fim, o garoto chutou uma pedra em direção ao meio fio da calçada e acertou o pneu do carro estacionado. O pai, muito chateado, falou “Garoto, olha o que você fez!” “Eu já te falei pra não ficar chutando coisas!” “Cara, imagina se acerta o vidro do carro!?”.
Atendo pais que se, e me, questionam sobre o que devem fazer para que seus filhos melhorem o desempenho na escola. Vou direto ao ponto: “Quanto tempo, e qual a qualidade desse tempo, que você ou o grupo de pessoas que cuida do seu filho têm para disponibilizar a ele?”.
Comecei esse artigo com o tempo, porque percebo que é o atual vilão, ou pelo menos, a desculpa mais usada no momento.
Muitas histórias para contar, mas ressalto esta: Uma mãe quase me atropelou ao chegar à escola, esses dias. A pressa em “despachar” o filho no portão da escola fez com que eu não fosse vista. Descrevo a cena para entender o que aconteceu: Automática. Parar o carro, abrir a porta, puxar a criança (anda logo!), pegar a mochila do pequeno, entregar um punhadinho de notas nas mãos do maior “Tem cursinho, hoje. Não ouse faltar!”.
Um grito, no silêncio que, provavelmente, estava-lhe sufocando. Seria um Manual diário, no infinitivo, se não fosse uma manhã de levar os seus filhos para a Instituição que vai
acolher boa parte da infância do menor e da adolescência do maior. E, assim, interagem, todos os dias; ou quase todos os dias.
Se bebermos da fonte de Lev Vigotski, a interação se dá através da linguagem. Um acordo de construção do desenvolvimento mútuo, no qual interagimos e reforçamos conceitos, acredito. Os adolescentes vêm crescendo neste contexto, interagem e internalizam os significados, criam conceitos e novos tons afetivos emocionais, de memória e sentimentos informação interação e intrainteração.
A Zona de Desenvolvimento Proximal- ZDP trazida por Vigostski é espaço em banco entre o que a pessoa já é, o que sabe fazer sozinha e o que virá a atingir com o auxilio de alguém que se aproxima. Por isso o termo zona “proximal”... próximo, perto - quem auxilia.
Essa pessoa tem como ponto de partida, portanto, o estímulo para que o outro se aproprie do que é naturalmente capaz. O professor, o psicopedagogo, o coach, o pai, a mãe, o amigo e todas as pessoas do universo de outra pessoa são mediadores nesse processo. Estamos aprendendo o tempo todo, já nos é claro isso. Descobrindo o melhor de nós e assegurando o nosso potencial de desenvolvimento. Mas, Vejamos... Filhos desatentos, em aula, em casa... Uma Mãe exausta ou um Pai exausto, e sem tempo.

Esses fenômenos pessoais, e sociais, influenciam diretamente naquilo que os responsáveis pelos adolescentes, em sua grande maioria, andam sentindo: um misto de impotência e insatisfação. Afinal, seu bebê cresceu e “anda dando mais trabalho agora do que antes.”.

O filho chega ao terceiro ano do Ensino Médio; Pais à beira de um ataque de nervos. A escola nem sempre percebe que este momento foi muito esperado, que a maioria dos pais deixou a seu critério a educação dos filhos e que, neste exato momento, muitos estão aflitos, porque investiram tempo e dinheiro para que a profissão seja escolhida no ponto certo. Como se colhesse o fruto desse tempo, e dinheiro, na ação mais complicada de suas vidas: filho na universidade, já!

Todos esses pais, ou responsáveis diretos, só desejam a felicidade dos filhos. E acreditem, muitas vezes, eles não medem esforços para cumprir essa tarefa.

E o que está falho? Não é o quê... Mas, o como não ficar mais falho? Não há formula mágica, mas aponto aqui com algumas coisas que eu fiz, e indiquei, e que surtiram um resultado positivo:

Reflita conosco:

É possível você...?
*Agir sobre o urgente -Focar no importante
* Reorganizar a sua agenda
* Parar, Olhar e escutar seu filho
* Quem é você hoje?
* O que gosta de fazer?
* Quem são as pessoas com as quais você pode contar?
*O que fazer em um dia feliz?
*  Ler mais
* Fazer exercícios
*  Conversar mais
* Ouvir música
* Eliminar frases negativas
*  Ofertar-se pensamentos criativos
* Seu filho precisa de um espaço chamado “de vocês”
* Qualidade de olhares e não quantidade de presentes.

Existem maneiras de transformar a ansiedade que aproxima as 24 horas que o dia tem das 40 horas diárias que a maioria das pessoas gostaria de ter em reflexão.
Algumas palavrinhas mágicas surtem o melhor e o maior recomeço da história do seu filho, mesmo que você tenha ficado mais tempo no celular nos últimos meses; mesmo que você tenha a impressão de ter deixado a porta de casa aberta ou de não ter tempo para problemas insignificantes que vieram da pessoa mais importante da sua vida.
Em todas as etapas da vida da criança, os pais tentam acertar. Na maioria das vezes, sozinhos, quase que intuitivamente, dão conta, e muito bem, mesmo quando se sentem impotentes diante de algo que lhes foge o “controle” imediato. Mas, será que precisamos estar o tempo todo apagando incêndios? Lógico que não.

Muitos deles são apenas o resultado de um planejamento inconsistente ou de um olhar rápido demais para o que de imediato podemos fazer. Deixamos muitas coisas virarem urgentes, infelizmente, sem agir sobre esse urgente.

Se somos interação, por que não interagimos? O garoto está dando trabalho?... A garota não quer estudar?... O vestibulando está sem forças para continuar? O seu filho anda triste com tanta pressão?... Seu filho está pedindo socorro?... Você e a escola não falam a mesma língua? Conversar com um profissional, conversar com todos os profissionais.

Existem inúmeras possibilidades de atendimento. As teorias existem para colocarmos em prática o que desejamos ser e desenvolver. Não se trata de um manual de saber fazer, mas passos dados, ação e reação, complexidade(Morin) e trama de sentidos. Interagir com o momento. A neurociência, a psicologia, a psiquiatria, a psicanálise, o coaching, a psicopedagogia, entre tantas outras “ciências” estão ai para auxiliar a todos nós nesta jornada.

O tempo, tema inicial da nossa conversa? Está onde sempre esteve, dentro de nós.

Muito grata, pela leitura.
Nadia Rockenback
12/12/2016

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